quarta-feira, 25 de junho de 2008

DIÁRIO DE BORDO - EVENTOS ESPECIAIS FIT BH 2008 - DIA -1, 25 DE JUNHO DE 2008

QUESTÕES PARA UM DEBATE SOBRE GRITO - A VOZ QUE NÃO PASSA DA BOCA (UNIVERCIDADE)

Marcelo Castilho Avellar

Afinal de contas, nossa relação com aquela encenação específica seria muito diferente se não ficássemos andando de um lado para outro do espaço? No fim das contas, cada cena acaba conduzindo o espectador a relações palco-platéia tradicionais e estáticas, à italiana ou em semi-arena. Em compensação, Grito usa como signo a proximidade entre intérpretes e platéia, assim como a intimidade, a cumplicidade e o risco envolvidos nela. É possível que tal relação não fosse possível em espaços convencionais, em que a distância física induz a uma segurança simbólica dos espectadores. Não tem nada a ver com a encenação ser ou não ser itinerante, mas com o jogo entre o espaço virtual construído pelos intérpretes, e o espaço real dado pelo mundo físico.Os intérpretes do espetáculo trabalham naquela fronteira estreita entre o confessional e o pessoal, apta a deixar o espectador sem a certeza de assistir a um depoimento ou sua encenação. O FIT tem, eventualmente, apresentado espetáculos que percorrem esse caminho, e seria interessante confrontar as estratégias adotadas pelos diretores e intérpretes para percorrê-lo - como Não desperdice sua única vida, que o grupo mineiro Luna Lunera apresentou no festival de 2006. Grito faz uma oposta arriscada: confia numa suposta capacidade de o espectador se escandalizar. Em outras épocas, os temas que aborda e a nudez que eventualmente apresenta seriam valores estéticos em si mesmos, por estarem associados ao novo, a algo que o espectador nunca havia visto, ou via com pouca freqüência. Nos dias de hoje, quando, em tese, tudo já foi visto - principalmente pelo público de um evento como o FIT -, apenas alguma poesia pode ser capaz de substituir o escândalo.

Um comentário:

Sebastião disse...

Olá, Marcelo.

Importante o trabalho que você faz por aqui. Pena que receba tão pouco retorno (vide comentários ou coments). Tenho acompanhado sempre e dessa forma, tenho o privilégio do primeiro comentário. O Oficina da Cena merecerá algum balanço por parte do blogueiro?
Força e bom Fit!