DIA -3, 23 DE JUNHO DE 2008
Marcelo Castilho Avellar
QUESTÕES PARA UM POSSÍVEL DEBATE SOBRE Quatro, Girakandombe e Vai fazer o quê?.
Houve um tempo em que os cursos superiores de dança brasileiros ocupavam a dianteira no que se refere à pesquisa de ponta, em termos de novas linguagens, nesta arte. Mesmo sendo uma amostragem pequena (os cursos proliferaram nos últimos tempos), os três espetáculos parecem mostrar que aquela posição foi perdida - a primazia, hoje, fica com artistas independentes ou pequenos grupos de pesquisadores que, freqüentemente, são financiados por programas públicos ou privados de fomento à pesquisa em arte. À primeira vista, tal informação parece representar um retrocesso. É possível, contudo, encará-la de outro ângulo: se a comunidade de dança está sendo capaz de conduzir, com competência, a pesquisa em certos campos, a universidade pode se dedicar a outros, não tão prestigiados pelo patrocínio.Os espetáculos, criados na Unicamp e UFRJ são representativos da idéia de que o produto artístico reflete, antes de tudo, as singularidades de seu processo de criação. A fala de Daniela Gatti, da Unicamp, por exemplo, privilegiou a idéia de integração de disciplinas como um dos fundamentos de Quatro. Patrícia Gomes Pereira mencionou o fato de que os cursos artísticos da UFRJ tiveram participação ativa na elaboração de Girakandombe e Vai fazer o quê?. Sintomaticamente, quase salta aos olhos do espectador, em Quatro, a idéia de "linguagens de corpo", enquanto as produções da UFRJ falam, nitidamente, em "linguagens de espetáculo". Ambas nos remetem à dança, mas por portas distintas.DA SÉRIE "ALGUMAS AUSÊNCIAS NOTÁVEIS"Não teria sido adequado haver pelo menos um crítico de dança na mesa que tratou da crítica na atualidade?Claro que a idéia da Oficina da Cena foi checar as relações entre ensino superior de artes e produção artística. Mas volta e meia, nos debates do evento, alguém lembra que para obter um panorama mais completo (ensino, em qualquer nível, e arte), seria útil promover encontro análogo com as escolas profissionalizantes e os cursos livres de artes cênicas.DA SÉRIE "LIÇÕES PARA NÃO ESQUECER"Na mesa da Oficina da Cena sobre crítica, Valmir Santos descreve o que considera ser a política de "O Globo" (e da Globo) sobre teatro: privilegiar os espetáculos produzidos com profissionais ligados ao próprio grupo, e dar, com menos destaque, um ou outro espetáculo criado por alguém de fora da "tchurma". O crítico se pergunta, também, se mais cedo ou mais tarde a toda-poderosa emissora do Jardim Botânico, que já tem entre suas parentes a Globo Filmes, não vai criar também a Globo Teatro.Valmir não menciona, mas há precedentes poderosos para seu raciocínio. Hollywood muito cedo percebeu que, ao lado de suas produções que davam lucro, precisava apoiar umas poucas, que não se pagavam, mas ganhavam grande espaço na imprensa, legitimavam o cinema como "arte". Nos últimos anos, os estúdios e distribuidoras americanos aperfeiçoaram ainda mais o processo: os grandes conglomerados do cinema têm subsidiárias para estes filmes "de arte", como Paramount Vantage ou Fox Searchlights, que ao mesmo tempo afirmam as marcas das empresas-mãe e nos lembram de como estão mais preocupadas com a arte que com os negócios.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
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