DIA -4, 22 DE JUNHO DE 2008
ALGUMAS AUSÊNCIAS NOTÁVEIS
Marcelo Castilho Avellar
É incômoda a quase ausência dos alunos e professores de cursos de teatro e dança em Belo Horizonte nos debates da Oficina da Cena – e, em menor grau, aos espetáculos que integram a programação do evento.
Hipótese número 1 sobre este vazio: os professores ainda não aprenderam que a participação em um tipo de atividade como esta é tão ou mais valiosa para a formação da garotada quanto as aulas que eles teriam no período.
Hipótese número 2: os alunos dos cursos formais, ou dos cursos livres com estruturas formais, comportam-se exatamente como torcedores de esportes ou alunos de academias de dança, só saem de casa para ver seu time jogar ou seus colegas se apresentarem.
Hipótese número 3: não estamos sendo capazes de estimular nossos aprendizes a investigarem o mundo por sua própria conta e risco, ou temos medo de que eles descubram que muita gente discorda daquilo que foi assumido como verdade na sala de aula.
Na mesa sobre processos criativos nos cursos superiores de teatro e dança, a expressão “pesquisa de campo”, bem comum na boca de professores universitários que lecionam em áreas práticas, não apareceu uma única vez. Se a pesquisa de campo foi usada em algum dos processos (pelo menos dois deles praticamente convidavam a ela), os debatedores não consideraram importante mencioná-la.
O fato é que boa parte de nós, artistas contemporâneos, considera o estúdio, a sala de aula ou o palco seu espaço primário de trabalho. Não visitamos os vizinhos nas ruas ou em seu habitat com a freqüência que deveríamos – e depois ficamos surpresos que eles também não nos visitam – como é fácil concluir da baixa bilheteria da maior parte dos espetáculos.
LIÇÕES PARA NÃO ESQUECER
As boas escolas de música sempre têm orquestras de câmera, que permitem aos alunos a prática de orquestra ao longo de todo o curso. A da UFMG, por exemplo, inclui alunos, professores e técnicos – os últimos também tornam possíveis as aulas de música de câmara. O que isto tem a ver com os debates da Oficina da Cena? Foram freqüentes, ao longo do evento, as reclamações sobre as dificuldades encontradas para formar os elencos nos próprios cursos. Patrícia Gomes Pereira, da UFRJ, por exemplo, disse que a instituição mantém uma companhia de dança contemporânea, mas como é formada apenas por alunos, seus integrantes, quando começam a atingir a maturidade artística, estão se formando e são obrigados a se afastar do grupo. Bartira Silva Fortes, diretora do trabalho da UFOP que se apresenta no evento, falou da dificuldade que os alunos de direção naquela universidade têm para montar elencos. Se as universidades mantivessem , para o ensino de teatro e dança, estruturas semelhantes à da Escola de Música da UFMG, essa conversa simplesmente não existiria.
Há uma ironia trágica no último depoimento. Quando foi elaborado o projeto para os cursos de teatro da UFOP, havia, na instituição, um curso de formação de atores, livre mas com longa duração e estrutura profissionalizante. O projeto localizava, naquele curso, espaço privilegiado para a prática orientada tanto dos alunos da Licenciatura em Artes Cênicas quanto do Bacharelado em direção. O problema é que os mestres e doutores brasileiros geralmente estão demasiadamente preocupados com suas pesquisas importantíssimas, e o curso de formação foi sendo esvaziado.
Por falar nisso, como é a relação entre os “colégios técnicos” de teatro e os cursos superiores das universidades que os mantêm – o TU da UFMG ou a EAD na USP, por exemplo?
segunda-feira, 23 de junho de 2008
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