sábado, 21 de junho de 2008

DIÁRIO DE BORDO - EVENTOS ESPECIAIS FIT-BH/2008

Dia 6, 20 DE JUNHO DE 2008

À GUISA DE INTRODUÇÃO

Marcelo Castilho Avellar

Foi só na véspera do início dos Eventos Especiais do FIT 2008 que encontramos (talvez…) um formato para iniciar a reflexão sobre eles. É que todo dia a gente reclama sobre a distância entre teoria e prática no cotidiano artístico. E o FIT promete ser oportunidade única para verificar a verdade sobre essa distância. Na Oficina da Cena, que começa hoje, por exemplo, encontraremos professores ligados a cursos superiores de artes cênicas e espetáculos apresentados por aprendizes de suas escolas. No Fórum de Teatro Latino-americano, teremos encenadores de diversos países do continente que trouxeram espetáculos a esta edição do festival. No Projeto Encontros, três grupos teatrais apresentam uns aos outros tanto seus processos de criação quanto o resultado dela.

Podemos, então confrontar fala (razão, teoria) e trabalho artístico (percepção, prática). O que o discurso sobre a criação, suas políticas, poéticas e problemas, tem a ver com a própria criação, suas políticas, poéticas etc. Se quisermos, podemos até mesmo estender esse raciocínio rumo ao festival inteiro: qual a relação entre o papo em volta da mesa de cerveja depois do espetáculo com o próprio espetáculo, o que tem uma peça a ver com outra, por que participamos de um monte de estímulos estéticos distintos e identificamos no conjunto deles um festival. O mundo moderno já é demasiadamente cheio de fragmentações e retalhos; não custa investigar se pelo menos os nossos retalhos teatrais não fazem algum (alguns?) sentido (s?)…


OFICINA DA CENA, NOTAS SOBRE ALGUMAS FALAS DE JOHANNES BIRRINGER

“Minha estética não interessa a você, você tem que encontrar a sua própria estética” – Em plena era high tech, é possível perceber que sentimos falta do velho happening, aquele ato performático que andou em moda em meio à era de ouro da arte política no ocidente, entre os anos 1960 e 1970. No happening, a função principal dos que eram supostamente artistas era provocar a criação dos que, também supostamente, não o eram. O engraçado é que Birringer, o tempo todo, dá a entender que sua fase “política” teria ficado no passado – ele acreditava que a arte seria capaz de mudar a realidade e teria caminhado rumo a um “cinismo realista e niilista”.

Também no quesito política, quando fala de suas andanças após a queda do muro de Berlim, Birringer lembra que foi ver como estavam as coisas no Leste – Europa Oriental, China, Cuba. O mapa do cara talvez seja meio esquisito, como lembrou, na hora, o tradutor da palestra, Sérgio Marrara. Mas é hora de começarmos a pensar, pelo menos em termos de arte, no “leste” como referência política ou ideológica. Assim como usamos o “norte” como referência de desenvolvimento capitalista – a Austrália, por exemplo, está inteira no hemisfério sul, mas faz parte do “norte”. Ao longo da história recente das teorias da cultura, as teatrais incluídas, os conceitos de “norte” e “sul” adquiriram significado importante. Em tempos de crise internacional, talvez seja bom voltar a debater os discursos que tratam de leste e oeste, independente de onde Cuba ou os Estados Unidos ficam nos mapas geográficos.

“A tecnologia impõe novas necessidades metodológicas. O ponto de partida da criação multimídia não é um texto ou uma história, como no teatro, nem um movimento, como na dança, mas um conjunto de possibilidades”. É boa transposição para a arte de um dos mais polêmicos conceitos da física quântica, o da nuvem de probabilidades. É possível, também, que seu desenvolvimento nas artes possa ajudar os próprios físicos a solucionar certas questões sobre o assunto que permanecem polêmicas, como a definição do momento em que uma partícula deixaria de existir simultaneamente em diversos estados e assumiria um único. O paradoxo do gato de Schrödinger (físico que expôs algumas das contradições presentes na mecânica quântica) sempre soou, para muita gente, uma construção intelectual mais próxima dos métodos artísticos que da ciência.

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