– 03 DE JULHO DE 2008, 4 PARA O FIM DA FESTA
NOTAS SOBRE DRAMATURGIA
Marcelo Castilho Avellar
Em uma das mesas do Fórum Latino-Americano, Fernando Bonassi mencionou a coincidência entre o crescimento do teatro de grupo e o fato de que os grupos de teatro brasileiros, cada vez mais, têm dramaturgos como integrantes de suas equipes. O Projeto Encontros não foge à regra. No discurso das três companhias que nele apresentaram seus processos de criação, a dramaturgia própria, surgida não como literatura, mas como resultado da investigação cênica, foi a tônica. Cada um apresentou caminho próprio neste rumo, mas todos chegaram à conclusão da inviabilidade de construção de uma pesquisa específica do grupo sem a criação de dramaturgia igualmente específica.
Parte do problema referente ao tema está, exatamente, no fato de que as experiências singulares no setor costumam ficar restritas às salas de ensaio – chega ao público apenas o resultado delas, nos espetáculos. Felizmente, aparece a cada dia mais gente disposta a debater o assunto ou a publicar sobre ele. Quando o Grupo Galpão, por exemplo, decidiu publicar os textos de seus espetáculos (como foram ao palco, não como eram no início dos ensaios), acrescentou, em cada volume, um depoimento sobre o caminho percorrido até aquele texto.
Diretamente ligada a esta questão de uma dramaturgia dos grupos (em oposição a uma dramaturgia de escritores de fora os grupos) está o tema da “edição” dos espetáculos. O conceito, anteriormente empregado apenas para o cinema, vem da idéia de que os grupos criam material através de experimentação, e depois precisam decidir o que integra ou não o espetáculo, e em que medida. É interessante notar que tal procedimento surge até mesmo quando existe um texto anterior que serve de roteiro ao espetáculo. A Cia. Luna Lunera, por exemplo, criou Aqueles dois a partir de um conto de Caio Fernando Abreu. Mas a organização do espetáculo ocorreu a partir da edição do material cênico construído sobre ele, ou melhor, proposto a ele.
NOTAS SOBRE O FÓRUM LATINO-AMERICANO
Duas barreiras acabam dificultando uma comunicação mais profunda no fórum que debate questões ligadas ao teatro na América Latina – e nenhuma delas passa pela língua.
A primeira é o fato de que somos vizinhos que não se conhecem. Ou, pelo menos, a América de língua portuguesa e a América de língua espanhola são vizinhas que não se conhecem. Para a próxima edição, seria legal algo como uma espécie de pré-formulário contendo um roteiro de leitura – se fôssemos fornecer a um estrangeiro um guia de fatos e obras que gostaríamos que ele conhecesse para tentar nos entender, qual seria? E o que deveríamos saber sobre Bolívia e Peru, por exemplo, para que pudéssemos, se não falar a mesma língua, pelo menos conseguir uma tradução simultânea?
O Teatro de Los Andes, boliviano, é bom exemplo de como esta tradução só pode ser feita através da arte. Através dos espetáculos que vem trazendo ao FIT ao longo dos anos, muitos belo-horizontinos conhecem, hoje, não apenas fatos da história da Bolívia, mas também o sentimento dos bolivianos frente a eles – Em um sol amarelo, memórias de um terremoto, que o grupo apresenta na versão 2008 do festival, é exemplar neste sentido.
É possível que a redenção da América Latina, qualquer que seja, só seja possível através da arte.
A segunda é o fato de que freqüentemente as questões locais se sobrepõem às continentais. As duas primeiras mesas do fórum, em diversos momentos, perderam parte de seu caráter quando começaram a se concentrar nos modelos brasileiros para problemas e soluções.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
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Um comentário:
"É possível que a redenção da América Latina, qualquer que seja, só seja possível através da arte"
Por favor, defina "arte" e defina qual redenção será possivel atraves dela, se ela é usada para a manutenção do poder e status quo(e de certa forma do seu emprego).
Acho engraçado esses discursos que elevam a "arte" a um novo tipo de religião salvadora.
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