quarta-feira, 2 de julho de 2008

DIÁRIO DE BORDO - EVENTOS ESPECIAIS FIT BH 2008

DIA 7, 02 DE JULHO DE 2008

ORGULHO DE PARTICIPAR DO FIT
Querem coisa mais cosmopolita e primeiro-mundista, num país em que 90% dos filmes exibidos são falados em inglês, que participar de um evento em que o espanhol é mais falado que o português – como o Fórum de Teatro Latino-Americano?

FALSOS CONSENSOS
Em linhas gerais, uma estratégia de construção de consenso é aquela situação em que alguém finge apresentar ao público uma escolha, quando o verdadeiro debate deveria ser sobre os pressupostos subjacentes a ela. Volta e meia, conscientemente ou não, ela é usada nos debates do FIT. Quando Eid Ribeiro, um dos diretores do festival, pergunta no Fórum se é o grupo ou a escola o espaço privilegiado da formação para o teatro, por exemplo, ele induz a uma resosta que exclui a possibilidade de que ambos sejam equivalentes.

A resposta de Fernando Mencarelli (UFMG) sofre de vício semelhante. Ele afirma que a questão apresentada por Eid será superada na medida em que os bons criadores de teatro (ou seja, agitadores dos grupos) ocuparem as posições que merecem nas escolas, como vem ocorrendo em muitos cursos superiores de teatro no Brasil. Mencarelli esqueceu, naquele instante, que a própria Lei das Diretrizes e Bases da Educação tem normas que dificultam ou impossibilitam o acesso dos profissionais autodidatas aos postos de professores.

Na mesma mesa de debates do Fórum, Rômulo Avelar, em sua fala sobre produção cultural, critica as leis de incentivo, mas afirma que elas trouxeram, entre outros benefícios, a profissionalização das artes. Há, nessa fala, um pressuposto oculto: a superioridade intrínseca de um modo “profissional” de produzir sobre um modo “amador” – que esconde menos uma questão ontológica que uma questão ideológica.

E não custa perguntar: será que a tal profissionalização não teria surgido simplesmente por causa do aumento dos recursos destinados à cultura, e ocorreria em qualquer contexto onde ocorresse este fenômeno – inclusive políticas culturais sem leis de incentivo, mas com investimento direto maciço do poder público no setor?


A FORÇA DAS REPRESENTAÇÕES
Cada vez que alguém menciona a possibilidade de alternativa de política cultural às leis de incentivo, acaba se referindo à lei de fomento ao teatro do estado de São Paulo. Como se não houvesse uma coleção de programas análogos (mesmo se freqüentemente com menor volume de recursos) espalhados pelo país, da Funarte (órgão federal) até administrações municipais. São Paulo capitalizou melhor que os outros entes federados sua distribuição direta de recursos orçamentários.


TODA UNANIMIDADE É PERIGOSA
No Projeto Encontros, a Cia. Brasileira de Teatro descreve em sua fala e demonstra em seus exercícios uma paixão pelo jogo de expressão entre voz e palavra – isso num momento em que a estrondosa maioria da pesquisa de teatro no Brasil caminha por trilhas centradas no corpo ou no espaço. A pesquisa da CBT poderia ajudar a reabrir um mercado que praticamente desapareceu: o radioteatro.


DA SÉRIE “FRASE DO DIA”
“Acredito que nossos alunos serão melhores professores do que nós”, Fernando Mencarelli, num rasgo de confiança na força das escolas de teatro.


DA SÉRIE “LIÇÕES PARA NÃO ESQUECER”
Miguel Rubio (Grupo Yuyachkani, Peru) fala sobre o quanto a televisão vem interferindo, ao longo de sua história, na formação de atores e na interpretação teatral em seu país e nos vizinhos. Talvez seja hora de nós, profissionais do setor começarmos a pesquisar, de maneira mais sistemática, esta relação entre teatro e TV – afinal, ignorar o rato não salva a despensa.


DA SÉRIE “NOTAS SOBRE DISCIPLINAS QUE DEVERÍAMOS ESTUDAR”
Depois da Cia. Clara (MG), é a Companhia Brasileira de Teatro (PR) que usa a palavra “editar” como etapa possível do processo de criação de um espetáculo. Ao longo de toda a história do cinema, os profissionais desta arte trataram a edição como “específico fílmico”, já que seria o único processo em sua criação que não seria dividido com outras artes. O teatro contemporâneo se encarrega de desmistificar essa aparente verdade. E o século de debates sobre edição no cinema poderia ajudar os grupos de teatro que resolvem investir nessa idéia.

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